o olhar do perdao

Eu ainda vou conseguir falar sobre isso sem chorar. Ainda vou conseguir pensar sobre isso sem sentir raiva, magoa, dor, culpa... Um dia eu vou conseguir olhar para mim mesma sem sentir que estou quebrada. E não só na conta bancária, mas quebrada na alma, quebrada por dentro e por fora. Ainda vou olhar para isso e não sentir mais nada. Nem rancor. Eu vou sorrir de novo, e vai ser daqueles sorrisos que iluminam o rosto todo, e não os amarelos, esses sorrisos tristes que tenho experimentado ultimamente. Meus olhos vão brilhar como antes, quando eu me levantar e conseguir olhar para o céu de novo. Hoje eu estou aqui, no fundo do poço, dando voltas ao redor de mim mesma pra tentar achar a saída. Hoje eu estou aqui, afogando no meu desespero, na minha ansiedade, velha companheira, chafurdando no desprezo, no descaso, no lixo onde você gosta de jogar as pessoas que não te servem mais, as que falharam com você. E é assim que todas essas pessoas ficam depois de te conhecer: sujas e estraçalhadas por dentro.

Por que você sabe onde dói. Você conhece as feridas e não pensa duas vezes antes de arranhar as unhas por cima das cascas, abrindo filetes de carne viva.

É assim que você nos deixa: Cuspidos e apedrejados no chão como escória, implorando misericórdia enquanto você dá o cheque-mate.

Por que esses são seus personagens preferidos: o carrasco e o juiz, o que dá a sentença e o que a executa. São esses que você gosta de ser. Mas, eu ainda vou sair daqui.

Ainda vou alcançar o raio de sol mais quente, respirar o ar mais puro e olhar para você com o olhar que mais almejo: o olhar do perdão. O olhar que não busca vingança ou dor. Eu vou olhar para você como a pessoa solitária e infeliz que você é, vou te olhar como um ser humano, como um igual. Aí sim, tudo será passado.

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